Mercado da Construção a Seco Avança e Ganha Escala

MERCADO DA CONSTRUÇÃO A SECO AVANÇA E GANHA ESCALA

Edvar Prates Lajarim, o Prates, é diretor do Grupo Ciasul e atual presidente da Associação Nacional dos Distribuidores e Instaladores de Material da Construção a Seco (Adimaco). Um segmento que, devido ao crescimento da construção civil e às mudanças estruturais na composição das classes sociais, tem conhecido um desenvolvimento sem precedentes.

“Independentemente do bom momento que a construção civil no Brasil vem passando, representando atualmente 13% de participação no PIB nacional, o segmento da Construção a Seco está apresentando um crescimento exponencial que pode ser percebido, seja pela grande quantidade de novos produtos lançados no mercado nacional nos últimos anos ou pelas instalações de novas fábricas de materiais”, afirma Prates.

O presidente da Adimaco argumenta que, segundo dados da Associação Brasileira de Drywall, entidade criada para difundir a tecnologia, a evolução anual do consumo de chapas para drywall no país foi de 2 milhões de m² em 1995, para 44 milhões de m² de chapas em 2012. Ele ressalta que o consumo brasileiro é, ainda, bastante modesto em comparação com outros países onde a tecnologia é mais difundida, como os Estados Unidos, Austrália e Japão.

De acordo com Eduardo Éboli, gerente de comunicação e marketing da Gypsum Drywall, “os sistemas vêm crescendo sempre a taxas superiores às taxas de crescimento da construção civil. Nos anos recentes o drywall tem crescido cerca do dobro do crescimento da construção. Nos anos de 2010 e 2011 o crescimento foi em média 25% ao ano. Em 2012 o crescimento foi na casa dos 15%, o mesmo que projetamos para 2013, o que é muito bom para os níveis de crescimento do PIB que temos alcançado.

Tradicionalmente o drywall sempre foi mais utilizado no sul e sudeste do país. Estas regiões respondem por quase 80% do consumo nacional. Especialmente o estado de São Paulo registra 43% do consumo de drywall no Brasil.”

Pelo fato da Construção a Seco ser um segmento dentro da própria construção civil, a estrutura básica de sua cadeia produtiva segue o mesmo modelo, podendo ser dividida em cinco grupos de atividades: a indústria de materiais de construção, o comércio varejista e atacadista, as atividades de prestação de serviços, máquinas e equipamentos e, por fim, as construtoras.

“Vale ressaltar que dentro de cada grupo existem outros elos que se interagem e convergem para a produção de bens e serviços destinados ao mercado consumidor. Um exemplo é o grupo de indústria de materiais que pode ser dividido por categorias como madeira, produtos químicos e petrolíferos, siderúrgica, etc., ou então na própria prestação de serviços onde se enquadram os profissionais técnicos como engenheiros, arquitetos, decoradores ou serviços de financiamento, incorporações e venda de imóveis”, esclarece Prates.

O presidente da Adimaco avalia que o crescimento do setor foi, em um primeiro momento, provocado pela própria necessidade das construtoras em desenvolverem uma industrialização em seus processos construtivos, visando padronização, rapidez e eficiência. “Já num segundo momento, percebe-se uma maior aceitação por parte dos profissionais e técnicos responsáveis pela divulgação e especificação de produtos, e pelos próprios consumidores finais, que estão descobrindo todas as vantagens e benefícios que a Construção a Seco proporciona”, argumenta.

O custo da Construção a Seco depende de fatores como o material, mão de obra, que é especializada, transporte, entre outros. Por tais motivos, segundo o presidente da associação do setor, não é possível fazer uma comparação simples, do tipo preço contra preço, com a alvenaria. Vários fatores devem ser levados em consideração. “Sem dúvida que um deles é a demanda do mercado, porém temos mais uma série de outros que é preciso colocar na conta, tais como: alívio de carga, pois uma parede em drywall é muito mais leve do que a de alvenaria; desempenho acústico, pois temos condições de conseguir uma parede altamente eficiente e muito mais esbelta, ganhando em espaço; movimentação de materiais para execução da parede; e reciclagem, pois todos os produtos, caso esta parede precise ser removida, podem ser reciclados, além do menor volume de resíduos”, explica Prates.

Patrick Bailey, do Grupo Pizzinatto, acredita que “a composição do preço não varia somente pela demanda. O preço do aço afeta os valores, assim como um grande problema com empresas não qualificadas ou homologadas que vendem perfis fora da normatização por um preço bem inferior, o que acaba afetando o mercado como um todo. Porém o valor no geral tem caído.”


COMPOSIÇÃO DA CADEIA

Patrick Bailey diz que o Steel Framing (chamado também de Light Steel Framing), é composto por perfis com espessura variando entre 0,8 mm e 1,2 mm, usados nas paredes externas e nas estruturas de cobertura. “O sistema construtivo drywall é a outra frente e foi a porta de entrada para os sistemas de Construção a Seco, e conta com normatização que define padrões de medida e espessura dos perfis. Ele tem se difundido cada vez mais com um número cada vez maior de profissionais se especializando e atuando no setor, o que gerou a necessidade de mais fabricantes de materiais, tanto os perfis e acessórios, como as placas de gesso acartonado. Acredito que a sua aplicação em edificações no ramo de hotelaria (hotéis da Accor) deram grande visibilidade ao produto e à forma de se construir com ele.”

João Alvarenga, coordenador técnico da Knauf do Brasil, explica que o início do mercado de drywall remonta aos anos 1970. “Mais precisamente em 1972, com uma empresa nacional que produzia apenas as chapas de gesso e o sistema tinha pouca ou inexpressiva participação no mercado. Em meados dos anos 1970, aportaram no Brasil as três maiores fabricantes mundiais que proporcionaram um grande desenvolvimento ao mercado, sendo que o principal diferencial para este avanço foi o trabalho do sistema como um todo. Ou seja, além das chapas de gesso, as empresas começaram a fornecer os perfis, massas, parafusos, acessórios, etc., criando assim um grande diferencial no mercado.”


EVOLUÇÃO

De acordo com Eduardo Éboli, gerente de marketing e comunicação da Gypsum Drywall, no início da década de 1970 a Gypsum do Nordeste iniciou operações com investimentos e capital nacional. “Durante praticamente 20 anos este setor esteve restrito ao mercado corporativo e aplicação em forros, com pouquíssima utilização em vedações e no setor residencial”, informa.

“A partir de 1995”, continua ele, “com a aquisição da Gypsum pelo Grupo Lafarge, o mercado começou a tomar uma dinâmica diferente e creio que aí é que houve o primeiro grande avanço da tecnologia no Brasil. Houve modernização do parque fabril e uma nova estratégia de desenvolvimento de mercado foi implantada: o desenvolvimento de grandes construtoras para utilização do drywall no segmento residencial e a estruturação de uma rede de distribuição e montagem; além da formação de todo um mercado periférico de produtos e sistemas complementares ao drywall, como, por exemplo, soluções para hidráulica e elétrica.”

Caroline Silveira, do marketing da LP Brasil, diz que o setor de Construção a Seco tem experimentado um grande avanço nas questões técnicas com estabelecimento de diretrizes tanto para o light steel framing quanto para o wood framing e no foco em atender as normas de desempenho para o sistema construtivo. “Uma prova disso é o sistema organizado pelo Ministério das Cidades que visa uniformizar e avaliar os novos sistemas construtivos e os produtos inovadores disponibilizados no mercado para a obtenção do Documento Técnico de Avaliação. A outra evolução seria no sentido comercial, com um grande aumento de construções a seco sendo feitas em todo o país, devido a políticas como Minha Casa, Minha Vida e também ao crescimento do número de empreendimentos do tipo condomínio horizontal de casas em série.”

Silveira destaca elementos que têm favorecido a construção civil, como a isenção do IPI até o final de 2013, o crescimento do financiamento imobiliário, que fechou o primeiro trimestre com crescimento de 31,7% em relação ao mesmo período de 2012, segundo a Caixa Econômica Federal, além dos eventos esportivos, como a Copa e Olimpíada. “O déficit habitacional, que está em 5,6 milhões de moradias e a segunda fase do programa Minha Casa, Minha Vida, que prevê a construção de dois milhões de imóveis até 2014, são outros fatores que impulsionam a Construção a Seco, como parte da indústria da construção.”

“Diante desse cenário, a construção a seco tem a oportunidade de promover o processo de industrialização da construção, oferecendo padronização e coordenação entre estrutura e materiais para oferecer obras mais rápidas, eficientes e com menos desperdício, que proporcionam um retorno mais rápido do investimento e fidelidade orçamentária. Essas vantagens, aliadas ao desenvolvimento do sistema no Brasil, vêm atender não somente as construções residenciais de médio e alto padrão, mas também as construções comerciais, industriais e casas populares”, acredita Silveira, da LP Brasil.

Sérgio de Almeida, da Brasfor, também vê evolução. “Tem sido um crescimento constante, principalmente em termos tecnológicos. O sistema de Construção a Seco é o principal sistema de construção nos mercados europeus e dos Estados Unidos da América. Ele traz algumas vantagens em relação à construção convencional: mais leve, mais rápido de executar e é sustentável.” Almeida acredita que os custos, apesar de já terem caído, têm mais espaço para reduções. “O mercado precisa crescer para ganhar mais produtividade, consequentemente o custo vai diminuir.”

Opinião compartilhada por Caroline Silveira. “Os fabricantes que fornecem para a construção a seco já estão, na sua grande maioria, instalados no Brasil. Assim não há dependência de produtos importados influenciados por políticas cambiais e custos extras de logística. Com indústrias fornecendo para um mercado tão grande e em crescimento, os fabricantes também conseguem reduzir preços, pois obtêm ganho de escala em instalações mais eficientes e com taxa de ociosidade decrescente. Outro fator é a maior quantidade de mão de obra se especializando nesse sistema construtivo.”

Éboli também defende que os sistemas drywall se tornaram mais competitivos ao longo dos anos. “O investimento da indústria subsidiou parte desta relação de custos. O aumento do preço da chapa para drywall nos últimos anos foi 50% menor que o aumento do cimento. Estes são os custos totais da obra, que leva em conta não só os materiais utilizados nas vedações de acordo com a tecnologia empregada, mas também custos relativos a fundações, transporte e estocagem de materiais, gestão de resíduos, cronograma financeiro da obra, etc. Em todos estes aspectos o drywall leva vantagens ao canteiro de obras.”


FORMAÇÃO DE MÃO DE OBRA

Hoje existem muitas oportunidades para quem deseja se tornar um profissional de instalação de materiais de Construção a Seco, inclusive os próprios fabricantes destes produtos já mantêm programas de treinamentos para formação de mão de obra, diante da grande demanda existente para este tipo de serviço.

Também existem entidades educacionais, públicas e privadas, que já disponibilizam cursos de formação para o segmento. Um exemplo disso é o Senai, que em parceria com alguns fabricantes de produtos, oferece cursos de instalação. Além disso, as principais empresas revendedoras de materiais também estão incluindo em seus portfólios de serviços os centros de treinamentos que visam à formação de profissionais especializados na montagem e instalação de diversos produtos dentro da Construção a Seco, como o sistema drywall, divisórias, pisos vinílicos e laminados, entre outros.

“Vale ressaltar que um dos principais desafios da Adimaco – Associação Nacional dos Distribuidores e Instaladores de Material da Construção a Seco, da qual sou presidente na atual gestão, é justamente o fomento, junto às empresas do setor, da formação de mão de obra especializada, necessária em todos os elos da cadeia produtiva”, diz Prates.

Os grandes fabricantes também têm a preocupação. A Knauf, desde 2000, tem parceria com o Senai para promover o treinamento e capacitação de mão de obra para o setor. Hoje o Senai possui mais de 24 centros de treinamento espalhados pelo país, tendo treinado dezenas de milhares de profissionais.

A este respeito, Éboli, da Gypsum, lembra que “no princípio o esforço foi totalmente empreendido pelos fabricantes que, através de suas equipes técnicas, formaram boa parte da mão de obra, que ainda hoje atua no mercado. Ao longo do tempo estes esforços foram se mostrando insuficientes para o crescimento do mercado. Foi quando foram feitos os primeiros convênios com as escolas técnicas, como os IFs (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia) e o Senai. “O que vemos agora é o surgimento de instituições privadas de ensino profissionalizante com interesse em formar mão de obra. A Gypsum Drywall forma cerca de 2000 profissionais a cada ano.”

Almeida, da Brasfor, opina que “além das indústrias e parcerias com o Senai, a maior formação de mão de obra neste setor está nas empresas instaladoras, pois os seus ajudantes, depois de um período acompanhando as obras, passam a ser oficiais instaladores.”


CUIDADOS NA CONSTRUÇÃO A SECO

Prates, da Adimaco, diz que, em geral, os cuidados a serem tomados na instalação de produtos da Construção a Seco não difere muito daqueles demandados pela construção convencional, embora alguns produtos exijam um conhecimento mais técnico. “Cuidados como uso correto de equipamentos de seguranças (EPI´s), ferramentais apropriados, limpeza no ambiente de trabalho e sustentabilidade são comuns em ambos os sistemas construtivos. Porém, na Construção a Seco há um cuidado especial que vai desde a correta especificação do produto, quanto a desempenhos térmico e acústico, reciclagem e, principalmente, uma rígida obediência às normas técnicas vigentes para cada tipo de sistema ou produto.”

Patrick Bailey alerta que, apesar da superfície perfeitamente lisa proporcionar excelente acabamento de paredes e tetos e serem capazes de receber os mais variados acabamentos, é preciso sempre contratar profissionais e empresas idôneas e verificar se os materiais, como perfis e placas usados na obra, atendem à certificação PSQ. “A certificação deve ser renovada a cada três meses, mostrando a seriedade do PSQ PBQP-H”.


ESPECIFICAÇÃO E INSTALAÇÃO E RESPEITO ÀS NORMAS

O presidente da Adimaco informa que já existem diversas normas técnicas, de acordo com o tipo de produto ou sistema construtivo. “Como exemplos, para o sistema drywall existem as normas NBR 15.758 (dividida em 3 itens: paredes, forros e revestimentos), NBR 15.217, para os perfis estruturais, e a NBR 14.715, para as chapas de drywall. Já para a questão acústica entrou em vigor recentemente a norma NBR 10.151, que fixa as condições exigíveis de ruídos em edificações. Além disso, existem outras normas que avaliam as performances dos produtos em várias situações, como resistência ao fogo, chamabilidade, resistência técnica e outros critérios que asseguram a qualidade do produto e a sua segurança. Também existem algumas resoluções que determinam o uso de produtos em alguns segmentos de mercado, como é o caso da RDC-50 que estabelece critérios para obras em estabelecimentos de saúde.”

Bailey, do Grupo Pizzinatto, lamenta que, apesar das normas atenderem ao mercado, “ser complicado a sua fiscalização, tanto em empresas grandes como fabricantes menores. O fato de comprar material de qualidade duvidosa coloca o cliente em risco, não vale a pena economizar centavos para ter um projeto que pode literalmente fazer sua casa cair.”

Mesma opinião tem Prates. “Infelizmente, como em qualquer segmento de mercado, não são todas as empresas que agem em total cumprimento das normas existentes, mas acredito que com o tempo essa situação mude, pois o próprio mercado consumidor já está mais consciente da necessidade de obter produtos de melhor qualidade e que atendam os quesitos de segurança, durabilidade e sustentabilidade, entre outros.”

FONTE: CBCA / Revista Sistemas Prediais